domingo, 22 de junho de 2014

(SEM TÍTULO)



Aquela mesa nunca foi tão longa.
Sabiam-se ligados por um laço incompreensível e severo.
Uma paixão platônica, dessas que se sente pelos gostos bons da vida.

Encontram-se
E riem-se

Da memória furtiva de que são cúmplices.
Agora, aquela mesa está muito longa.
E nessa distância margeada por vigias enganados

Olham-se
E riem-se

Da viva infância que lhes acometem o peito e dispara o corpo estagnado até ali.
De uma ponta à outra daquela longa mesa,
Seus olhares aperfeiçoam os nós dos laços incompreendidos.

Perdem-se
E riem-se

Da condição ridícula, infantil e imoral, em que se encontram – adultos que são.
Mas aquela mesa longa...
E o tempo esgarçado e torturante insiste, ignorante, em mantê-los afastados.

Anseiam-se
E riem-se

Do iminente fim da briga de gladiadores que participam desatentamente.
Só interessa o lado oposto da longa mesa.
O fim que chega faz, enfim, começar o dia.

Abraçam-se
E riem-se

Satisfeitos pelo toque de pele, cheiro, respiração, sussurros,
Não mais separados pela inútil longa mesa.
E o insólito instante a sós os embriaga e tece laços de corpos.

Amam-se
E riem-se.


[Aline Sampin

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Sintaxe em síntese


Culpa é substantivo?
Onde ela entra na ação?
Quem conjuga o verbo
Que insiste em ser transitivo indireto?
Tanto, será ele pronome de mim,
Substantivo em seu nome
Ou adverbio de nosso ato?
Conjugo o querer no presente
Ou no pretérito mais que perfeito?
Somos, enfim, sujeitos?
Ocultos ou compostos?


[Aline sampin

domingo, 30 de março de 2014

O que é ser mulher 1



Mulher é prazer e dor
O órgão do prazer não convém a nada mais
A dor é mensal, é natalícia, é perene
Mulher tem terminação de verbo
Age, transita, extrapola, instiga
Tortuosamente intuição
Mistério puro e indelével para si
De si, inaptidão. Para si, austeridade
Cárcere sentimental à beira do piegas
Palidez na tez de quem chora em vão
Suor discreto, inodoro e limpo
Mulher é asseio indecente e ridículo
A inconstância lhe escorre pelos lábios
(Por todos eles)

[Aline Sampin

O que é ser mulher 2



Segundo sexo
Submissão
Sexo frágil      
Sinestesia
Sexualmente apelativa
Separação dos “eus”
Sujeita a estupros
Superficial
Simulacro orgástico
Somatização
Safadeza
Ser humano

[Aline Sampin

sábado, 1 de dezembro de 2012

Pintura não correspondida




A mão que pinta
ama o pincel, mas não
O que é tinta.

[Aline Sampin

*Da série Haicai
Ilustração - Jaqueline Sampin

Fila*




Máscara cai bem
Na face bruta. Passe
A vez pra quem tem.

[Aline Sampin

*Da série Haicai
Foto por Ellen Barboza

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Escolha*




Temos dias e noites.
Vida assim dividida,
Qual teus amores.


[Aline Sampin

*Da série haicai.
- Ilustração: Aline Sampin.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Incansáveis



O tilintar de copos.
O cheiro envolvente
De um delicioso jantar.
Um jogo de dois corpos.
Gestos nada inocentes.
O amor presente e sublime.
Temperando com primor
O sabor de uma noite
Que até a eternidade se repetirá.

[Aline Sampin

[foto por Aline Sampin (câmera Pinhole do aplicativo retrô câmera do dispositivo móvel)

Soneto de laços falhos

Quando penso nos erros dos outros
Repenso os nossos enganos
Que são muitos e, no entanto,
Nossos acertos não foram poucos.

Traímos todos os laços,
A cada lágrima que rola contra
A distinção dos nossos traços,
Que ao tratarmos, não demos conta.

Soma ao teu dia
Minha marra mutável.
Sou tua companheira.

Testemunha minha euforia
Ao te ter tão amável,
Ainda que não queira.

[Aline Sampin

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Manifesto

Onde havia amor, já não se pode haver.
Mas do que nunca, de hoje em diante
Nessa terra, nessa vida, ninguém pode viver
Dos verbos que sucedem aquele que é operante.
Ninguém aqui fornica, ninguém pode mais foder.
Nem como gente amiga, nem como gente amante.

Cortem a carne do que peca.
Mas não permitam ver-lhe o sangue,
Que é o sumo do doloso.
É o que endurece toda neca.
E ainda que ele sangre.
Não lhe deixem ter o gozo.

Digam adeus à falha, ao erro, ao ato.
Não ouvi, ainda, palavra sequer.
Quem será o primeiro a ser de fato
O carnífice da iniquidade da mulher?
Saiba este, renegar apetitoso prato.
Em tal iguaria não meterá mais a colher.

Falemos de falência ao falo!
Gritemos guilhotina ao grelo!
Falência ao falo!
Guilhotina ao grelo!
Ao falo!
Ao grelo!
Falo grelo!

[Aline Sampin

domingo, 9 de outubro de 2011

Versos que dizem a vida de Maria e seus adversos

Sinceridade no olhar que sorria
Se ria toda de dança, de graça.
Que brinquedo contenta Maria?
E nem birra, nem pirraça.
Chega perto e enverga alegria.

É manhã da noite pro dia.
Maria canta qual passarinho.
Que barulho norteia Maria?
É murmuro de cantinho.
Mamãe chorava enquanto lia.

Lágrima de mãe dói qual tortura.
- Já sou crescida, posso aguentar.
- Papai se foi lá pras alturas.
- Mas mandou carta e vai voltar.
Mas não demora em sua candura.

Maria de raiva desespera:
Volta do pai é que nem nunca.
Desacredita a sua espera.
Seu coração vira espelunca.
Nada será mais como era.

Logo vê que o pai morreu.
Criança crê que tudo volta.
Mas vê no chico, que cresceu.
Chegou à idade de revolta.
E sua esperança feneceu.

Cadê carta, está no porão.
E no papel o que é verdade.
Letra não é do pai, mas do patrão.
Veio informar a calamidade.
Que pai morreu numa explosão.

Mina, mineral dá dinheiro que só.
Patrão sabe que o luto tem o seu valor.
Compra o luto pobre com um futuro melhor,
Inda cisma que seu ato foi um grande favor.
Eita vida, que de assim não dá pra ser pior.

- Pra ser gente, tu estás nesse mundo.
- Escuto tua fala e antes disso, obedeço.
Não foi nesse, nem no outro segundo
Que a usança da moça virou do avesso.
Levaram dois anos num penar profundo.

Menina Maria debutou na estrada.
Foi para cidade a todo custo ser gente.
A revelia brotou cada passada.
Na noite urbana, assim mesmo de repente
Foi ter com a vida, essa amiga desgraçada.

[Aline Sampin

quarta-feira, 9 de março de 2011

Por que não?

Porque já foi embora.
Porque ainda é cedo.
Porque me recordo
Que não te conheço
Eu sempre demoro
Ou quase escureço.
Na vergonha da aurora
Tem meio tropeço.
Porque é meio-dia.
Pela minha frescura.
Por tua rebeldia.
Porque é sem cura
Essa minha agonia
De ser sempre pura.
Porque és anônimo.
Porque sou sem você.
Porque és antagônico
Ou por não merecer.
Nem hoje, nem ontem.
Mas talvez amanhã.
Só me diga seu nome.
Pra saber quem consome
Minha dúvida vã.

[Aline Sampin

domingo, 6 de março de 2011

Só por estar, e só

Não tenho nada pra me distrair
Não quero nada
Não me tenho
Se quer.

Estou em repouso aqui e ali
Minha pele parda
Meu empenho
Mulher

Solta no acaso que se repete
No olhar escasso
Corda bamba
Amor.

Por tua conduta que me repele
Não sou teu caso
Coisa branda
Favor.

Colido com minhas vontades
Toda vez que caio
Num desmaio
Perco.

Já são poucas as vaidades
Nada deixou, lacaio
Não te traio
Esqueço.

[Aline Sampin

sábado, 18 de setembro de 2010

Paisagem de Brutos Versos

Versos que em nosso amanhã
Teus olhos não lerão
Nem se lembrarão da cor vibrante
Que o hoje que será ontem
Mostraram a ti tão distante.

Em tal hoje, palavras diziam: tu és.
A angústia que me felicita és.
O pretexto do meu instinto animal.
És o compasso ansioso de meus pés.
Tudo o que é em mim natural.

Versos ásperos, já que brutos,
Bruteza própria de impulso
Pulsa tudo sem pensar,
Te machucam sem engano,
Fere mesmo, fere sempre, pra sarar.

Sou esta sincera provedora
Partindo tarde oscilante,
Provendo nada, chegando à toa
Na efemeridade de teus rompantes,
Na vida errante da tua proa.

Enfim, somos sem mais nem menos.
Teu barco não aportará em meu futuro.
Um dia, tua inerme vida te virará as costas.
Por certo, tu perderás teus remos.
Abrandado, te encontrarás seguro
Nas duras pedras de minhas encostas.

[Aline Sampin

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

On the bus

Yesterday,
I saw a couple kissing on the bus where I was.
They seemd happy as a lot of people would like to be.
I am sorry, but they were not like us.
What do you think? Do not tell a lie to me.

You are not a person I would like marry.
I'd never marry a rude man. I know other guys.
And I already have my problems to carry.
I don't want who doesn't kiss me on the bus.

[Aline Sampin

domingo, 21 de março de 2010

Não entendo

Não entendo, não entendo
Pra que tantas desculpas e motivos.
Pra que isso tanto?
It's true. It's so hard to be alone.
Sou eu mesmo, sou eu mesmo
Que pouco falo e muito penso.
Pra que tantos rostos e esquivos?
I'm fine, I'm alone enough
to have him inside me.
E o derramo, o derramo
Em lágrimas pelo beijo do outro.
Só mais uma cena pro meu repertório.
Somente mais um engano.
Mais um abalo no meu orgulho torto.

[Aline Sampin

domingo, 3 de janeiro de 2010

Preencha de sonhos



Sou uma barragem contendo a correnteza.
A minha volta, secura da terra que se quer encharcar,
De tanta sede que sente da minha inútil estranheza.
Mas a represa tudo ampara. Esta represa, meu olhar.

Meu olhar que nada vê, que mede, desvia, se mexe,
Esconde vontade, dissimula desejos e constrange um futuro.
A correnteza, meu bem, um devaneio, se escabeche,
Cá dentro, cá comigo, com o cálice que amarguro.

Um cálice até a borda de sonhos, tonturas, caprichos,
Silêncio e sussurros que não pretendo libar.
Penso que se não me mexo, nada sai do lugar.

Paraliso e aguardo quem complete meus rabiscos.
Os desenhos mal feitos, que eu não quero enxergar.
Por favor, preencha-me de sonhos antes de me amar.

[Aline Sampin

- Foto: Leli

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Plágio

- Esta cara não tá nada mal!
Entorta mais, obscurece.
- Tá parecido ou igual?
- Assim teu olho não convence.
Vira de lado, diagonal.
- Assim tá bom, é similar?
- Empalidece. Mais superficial.
É mesmo isso, tá quase lá!
Agora um bico mais imoral.
- To idêntico? Posso parar?
- Tal e qual, um legítimo cara de pau!

[Aline Sampin

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Soneto de Simbiose


Em minha pele, teu cheiro.
Teu gosto em minha boca que vai.
Segue um sorriso satisfeito.
Alegria na lágrima que cai.

Mesmo triste, afortunada me vejo.
Contente, minha sorte por te ver
Feliz e faceiro num longo beijo,
Prazenteiro sempre ao me dar prazer.

Falo de mim ao me referir a você.
Penso em você quando me quero lembrar.
Faço-te o bem para o meu próprio proveito.

Ouço meu coração, quando é o teu a bater.
Vejo minha vida passar em teu olhar.
Sei mesmo que amo e não tem mais jeito.

[Aline Sampin


- Ilustração: Aline Sampin

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Menina Mulher


Vi a mulher, vi a menina.
Parti sem deixá-las pra trás.
Sorrindo, as três chorando feridas.
Andamos, mãos dadas, sonhamos demais.

Chegamos pra toda gente.
Olá, fora de nós!
Roubamos a cena, perdemos o rumo.
Perfeito virou ausente,
E assim, nos vimos sós.

Mulher envelheceu depressa,
Menina logo se perdeu.
Nessa confusão, longe da festa,
Vi que menina e mulher eram eu.

[Aline Sampin


-Ilustração: Aline Sampin

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Sensacional


Espelho que diz o que quer
Quando bem entende.
Que sabe aonde vai.
Ora menina, ora mulher.
Da minha força depende.
Instalou-se em minha vida e nunca mais sai.

Querida como se eu mesmo fosse.
Companheira uterina de anos atrás
Minha primeira boneca e preferida.
Amiga, em quem instauro minha posse.
Irmã idêntica, nem menos, nem mais.

[Aline Sampin


-Ilustração: Aline Sampin

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Cuca Complicada





Não sei como pode,
Problema ser consolo
Ou se consolar em um problema.
Consolo é quem acode.
Problema é um engodo.
Então se fez mais um dilema.

Não sei quem me acode
Pra resolver este dilema.
Consola-me quem pode,
Resolva meu problema.
Se o consolo é um engodo,
Anseio um estratagema.

Pois se o tal consolo
É verdadeiramente dolo.
Imaginem o problema!
Será ele um teorema?
Resolvê-lo ninguém pode.
Então, meu Deus, quem me acode?

Assim, assim, minha cuca explode!
Será eu, o meu problema?
Ou será que sou consolo?
Será que eu mesmo me acudo?
Ou será isto mais um dilema?
E ainda, será que tudo isto pode?

[Aline Sampin


- Ilustração: Aline Sampin

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Ócio

O pulso parou sensivelmente.
Destarte a carne morre sem esforço.
Vermelho se faz preto.
Vivo apodrece, sobra o osso.

Consciente abandona-o a mercê do nada.
Destarte a mente se faz ausente.
Rosto empalidece num branco insosso.
Labuta putrefaz, sobra a preguiça da mente

[Aline Sampin


-Ilustração: Aline Sampin.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Meu Jogo

Eu queria, ainda, um resto do que vem.

Vender o nada que me cabe da sombra que me cobre.

Ter a visão distorcida por uma bolha de sabão.

Comprar a bolha por apenas um vintém.

Das folhas da árvore me vestir e me sentir nobre.

Ter meu mundinho me protegendo de qualquer não.


Mais ainda, eu queria ter a tua companhia.

Tê-lo preso, por tua vontade, ao meu lado.

Aperfeiçoar, o que é perfeito, tua nobreza.

Enfiar-te em mais uma bolha que surgiria.

Vigiar, como um tesouro, teu olhar apaixonado.

Trancar, a sete chaves, no meu peito, tua pureza.


Queria, em fim, caminhar por sobre a mesa.

Admirar este meu encantador jogo de tabuleiro.

Jogar o pequeno dado de única face.

Ganhar de minha rival a realeza.

Descobrir que não tem preço este meu reino,

E que minha adversária era meu insólito disfarce.


[Aline Sampin


- Ilustração: Aline Sampin

domingo, 14 de outubro de 2007

Dom


Use minha vontade.

Nada de amor mimético, estético.

Me dê a rebarba, o defeito, o teu jeito.

Da tua pose covarde,

Faça um samba patético.

Da tua falsa coragem,

Faça um paço sintético.

Tropece, disfarce, invente, seja meu,

Minha nota de bamba,

Meu malandro de rua,

Tudo que a vida roeu,

Todo meu dom de ser tua.

[Aline Sampin


- Ilustração: Aline Sampin

sábado, 4 de agosto de 2007

Anônimo

Silêncio, silêncio.

Na minha nuca, olhos me fitam.

Me seguem, mas não vou me virar.

Sinto o calor de um suspiro,

Muito úmido, mas não quero olhar.

O anônimo me soa como mito,

Porém, no mesmo rito, eu me nego.

Anônimo talvez por medo ou desapego.

Incógnita, enigma, charada.

Embora a curiosidade reja,

Até que aprecio alongar meu desespero.

Quem sou eu pra ter alguma resposta.

Não sou ninguém pra pessoa as minhas costas.

Meu anonimato é bem mais relevante.

Sou incógnita muito mais constante,

Perene de meu mundo.

Oh! Meu cavaleiro onipresente virtual

Me socorre desta rede de intrigas digitais.

Me apanhe em seu cavalo de tróia!

Tenho um presente grego no meu colo.

Se debruce sobre meu ombro,

E veja que rara jóia,

Um órgão naturalmente solo

Sem afagos, um verdadeiro escombro.

O que sobrou da pequena máquina

Intimamente infectada pelo teu

Silêncio, silêncio, silêncio...

[Aline Sampin



- Ilustração: Aline Sampin.


terça-feira, 10 de julho de 2007

Perdôo-te tua cor, nega


Nega, me empresta tua cor!
Não recusa meu perdão.
Tens me causado tanta dor
Os olhares à tua pele,
Todos os “ais” na tua mão.

Perdôo-te o descaso,
O fracasso da minha ginga,
O mau pedaço que és do mundo,
A malemolência de tuas carnes,
Teu gosto por boa briga.
Perdôo-te por um segundo.

Mas me empresta tua cor!
Cobre-me de melanina!
Deixa eu me sentir forte, menina!
Queira me dar o teu amor!

[Aline Sampin


-ilustração: Aline Sampin

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Prazer


Um acaso de bocas que se encontram.
Principio de um desentendimento.
Um particular a dois
Afastamento do resto do mundo Sensorial,
Sem sentido de ser.

Dentes se esbarram num sorriso
Duradouro por crescer.
Motivo sincero para um abraço
E mãos que começam a descer
Por um caminho desconhecido,
Ou ao menos por esse ponto de vista.
De dois corpos que já não vestem mais nada.
De dois copos, de dois sopros de vida.
De berros uníssonos, suspiros, ar.

Contrações simétricas do par,
Que contam o que a boca não pode falar.
Não pode gemer e já não pode gritar.
Já não se permitem amar longe.

[Aline Sampin

quinta-feira, 13 de julho de 2006

Perfil Contraditório

Hoje eu viro a cara,
Não pro mundo
porque eu vivo nele.
Viro a cara pra realidade
Que espanca, que invade.
Formas paradigmáticas inexatas,
invadem os sonhos dos normais,
e fazem sangrar nossa civilidade.
A sociedade está infectada por seres psicopatas, filhos de mães encabuladas, herdeiros de pais etnocentristas, logocentristas, sociopatas...
Mas eu vivo, eu sobrevivo.
Permanecerei nesse estado lateral, enquanto houver recursos para tal. Perdão pelas palavras fortes, só o gesto diria por si. Mas resolvi me contradizer... só por hoje.

[Aline Sampin

Infância de Joana


Suspensa por um balanço
Joana permanece
Durante o dia,quando anoitece,
Durante toda vida.
Essa mesma que lhe entristece.
Joana não quer comer.
Nem comida, nem besteiras.
Joana quer o balanço.
Quer o ar e a mangueira.
Leva a vida por essas cordas
Que balançam o seu sonhar.
Quer o vento no sorriso.
Joana pensa em calar.
E cala por um momento
Longo e tenso de crescer.
De entender que a infância,
Os primeiros passos de uma vida,
Passa pra nunca mais.
Mas a brincadeira
A velha companheira,
Essa, o tempo não desfaz.
Joana cresceu.
Envelheceu.
E ainda brinca de viver.

[Aline Sampin